segunda-feira, julho 05, 2010

Queremos Ir Embora


O Sporting é uma experiência marcante na vida de um jogador. Mais para o mal que para o bem.
O seu ex-capitão lançou o primeiro grito de desespero: estava a ser queimado vivo no purgatório de Alcochete, sofrendo martírios inimagináveis, impossíveis de traduzir por palavras. Mas que se traduzem bem por mais 5000€ por mês. Ou por qualquer outra coisa, como um triciclo, um biberão, duas pastilhas Super Gorila e um Bollycao, enfim, qualquer coisa que o livrasse daquele dantesco balneário. Supõe-se que dez cotoveladas do Bruno Alves directamente ao sobrolho em cada treino é coisa pouca quando comparado com o ambiente daquele balneário. O balneário que o viu nascer e que esperou este tempo todo para o ver crescer. Em vão. Ele nunca passou dos 1,70 metros. O Gisvi é que era bom, esse calmeirão. Por acaso, também nunca mais ninguém soube mais nada dele.
Cristiano Ronaldo foi formado no Sporting. Vê-se logo. Cuspiu para quem lhe tornou numa mega-estrela, os media. Fez birrinha. Foi do céu para o inferno por um punhado de divisas. Quer lá saber do resto, desde que haja um espelho para se admirar. Isto é, só podia ter sido formado no Sporting. Tal como ele, há o Figo, o Simão, o Alfredo Bóia, etc., um monte de etc. que se acumulam por aí, um pouco por todos os lados. Menos no próprio Sporting, claro.
O Sporting forma grandes Homens para o século XXI. Mas sabemos que no século XXI os grandes Homens estão cada um por si, a vender as suas mães para comprarem Lamborghinis cor-de-rosa. Ou seja, os jogadores tornam-se monstros e fogem ao controlo do criador. Na última frase estava a pensar no Frankenstein e no Miguel Veloso depois de uma noite no Chimarrão.
O Sporting sofre uma espécie de complexo de Édipo ao contrário: enquanto os filhos estão por perto, o progenitor ama-os, mas estes não podem vê-lo pintado à frente. Quem passa pelo Sporting fica a odiá-lo de morte. E os que não ficam a odiá-lo e querem ficar são simplesmente inúteis, como o Caneira e o Pedro Silva. Embora um pudesse ajudar numa parceria do Alvaláxia com os Leitões de Negrais e o outro fosse óptimo para o lançamento do disco.
Logicamente, o Costinha, que se diz sportinguista desde pequeno, nunca jogou pelo Sporting. Senão estava calado. E o próprio Maniche ainda vai a tempo de não jogar, para assim exultar o seu sportinguismo de pleno direito.
Para não destoar, e quando toca ao futebol, os adeptos do Sporting detestam o Sporting. Compram lugares de época só para ir para o estádio assobiar a equipa, espezinhar a já de si parca dignidade dos seus pseudo-ídolos e libertar frustrações que eles nem sabem que tinham. Entre três sportinguistas há, no mínimo, quatro opiniões diferentes de como meter a equipa a jogar melhor. E qualquer uma das opiniões desperta a aversão nos outros sportinguistas. O sportinguista move-se pelo ódio e auto-depreciação. Os mais afoitos já dizem que são apenas anti-Benfica, ou seja, reconhecem abertamente que a sua equipa é tão fraca que já nem merece ser odiada, passando então a execrar somente os outros.
O Carriço já está nervoso com a braçadeira de capitão. A braçadeira de capitão no Sporting não é um símbolo de prestígio, é antes um pedaço de tecido amaldiçoado que incute no jogador um frémito súbito e incontrolável de partir. Bastou ver a forma como Moutinho carregava essa cruz que estava sempre a incomodá-lo no braço durante estes anos. Carriço já está a pensar em dar o salto para o campeonato turco, o Gil Vicente, o Kaizer Chiefs, qualquer lado. O Carriço já anda a consultar freneticamente o Google Maps para saber qual a melhor rota para sair de Alcochete.
Sá Pinto foi capitão do Sporting. Quis contrariar a tendência e regressou ao Sporting. Era motivo para lhe arranjarem uma camisa-de-forças, mas não, deixaram-no voltar. Saiu de lá ao murro. Barbosa foi capitão do Sporting. Não saiu e fez questão de mostrar o seu desagrado faltando por comparência às missões que lhe estavam reservadas enquanto director-desportivo. São assim as maldições.
E não é só o Moutinho e o Izmailov que querem ir para o Porto. Toda a gente quer ir para o Porto e fruir de um belo café com leite na casa do líder supremo. Por exemplo, o Torsiglieri já enfeita o seu cacifo com dragõezinhos de porcelana e diz para o André Santos, “Oye, tío, yo soy dragón desde niño y también soy dragón en el horóscopo chino”! E o André Santos diz que sim e que vai cortar o cabelo só quando for apresentado no Dragão. Ao lado, o Tonel chora enquanto olha para uma fotografia sua do tempo dos juniores e lamenta “Eu podia ter sido um Super Dragão, car***o. Chuif”. O Salomão acabou de chegar mas já não desdenha mudar de ares, completamente enjoado com três ou quatro dias de sportinguismo à séria. “No fundo, eu fico bem de azul. O verde faz-me parecer um sapo. É um horror”. E o Liedson promete técnicas de guerrilha espantosas esta época para que o deixem sair, suplantando as tentativas espectaculares, embora infrutíferas, das últimas épocas. Até o Paulinho está com meio olho no FCP. “Acho que se for para o Porto até vou conseguir andar de mota. Eu nunca consegui andar de mota desde que vim para aqui e estou farto de estar à espera”. Mesmo jogadores de outras épocas revelam agora o quanto desesperaram com o leão ao peito. Como Celsinho, por exemplo. “Eu queria era ter sido flop noutro lado qualquer”, reconhece. “Odeio o Sporting por não me deixar ter sido um flop a valer, como um Balboa, um Maicon ou mesmo um Jacaré. Julgo que eles não souberam desaproveitar o meu talento”. E Toñito. “Eu joguei no Futebol Clube do Porto”! Não, Toñito, então tu não te lembras que recusaste o Porto para jogar no Sporting? “Não, não era eu, eu nunca faria isso, por amor de Deus, larguem-me, deixem-me em paz”! Pois é, Toñito, mas hás-de ultrapassar essa fase de negação.
E quando os sportinguistas ultrapassarem a sua fase de negação, poderão então reconhecer que as iniciais do seu clube de futebol hoje em dia representam apenas Sportinguistas a Caminho do Porto.

2 comentários:

Anónimo disse...

bem pensado!!!! nem me lembrava do saudoso jacaré :)))

Gino Magnacio disse...

O Moutinho nao e mais que aquele grande calvo que trocou o clube pai pelo satelite

J'aime Pacheco nao o outro

Ja agora para quando um post acerca de irmaos de futebolistas famosos que actuaram em Portugal, ja que esta ca o irmao do Kaka, o irmao do Aimar e o irmao do Maniche?

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